quarta-feira, 19 de março de 2014

Meu corpo mudo
Transmuta.
Tem um humor silencioso
Vive a glória da ilusão translúcida
Perfeitamente desarmonioso
A pele feita por matéria frágil,
Venera este tecido que repele
E transforma em áspero
Todo contato exposto.
Meu corpo não pulsa.
Está cheio.
Excede de devaneios
De inversos sujos que atravessam a náusea
Da plena vida primária.
Violentou o absoluto.
Numa entrega ao anseio natural da antiforma
Do homem que encerra toda vocação física
Que respira e respira
Numa eterna obsessiva compulsão humana.
Não. Meu corpo corre.
E agora é oco.
Dele não há ordem
As portas estão fechadas.
Assumiu o antes tudo
Como pronome indefinido.
E da natureza
A palavra está no lugar.
A pele sintática testemunha os instantes dos inexpressivos versos plásticos.
Manifesta o mergulho na matéria fina
Numa tentativa de se tornar apenas o sumo impessoal
Deste fruto conceitual; vida.
Desvanecer
para caber

para dilatar essa natureza cardíaca
vascular.

Desvanecer
para ser lembrança,
para cultivar
E permanecer em estado mórbido
a frágil leveza do ser

Nostalgear essa inconsequência
da existência.
Tépida,
Apática,
Porém impetuosa.

Ser, talvez, o não dito
a natureza sanguinária
e selvagem dos seus medos.

Portanto, falo.
Como se do meu desequilíbrio
eu criasse pasmos.

Há muita natureza em mim
sementes em excesso
infeccionando a terra.

É preciso limpar esse infecto
Organizar a sujeira.
Obstruir os espinhos

É preciso conhecer a delicadeza do cultivo à luz da colheita.