quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Para além do subcutâneo
Ecôo frases sintomáticas
Revisito traumas.

- Recuo -
- Impulso -

Fere-me as cavidades dos dedos.
Para além do subterrâneo,
E pela ânsia,
cavo uma busca pelo desconforto
Pela náusea íntima
Numa transfiguração do morto.

Ainda que nebuloso
Permito-me à entrega no imaginário
Entre esferas
Encontro-me perante minhas próprias feras

Fora de qualquer zona de conforto
Nem um extremo nem outro
Ainda sinto medo.

Na epiderme: abscesso cutâneo
Infecciono-me com minhas fantasias
Ainda habito inúteis paradigmas


Tecido pela linguagem
Violo e hominizo minha natureza através dos sonhos
Cuja metáfora penetra todas as zonas
Deste corpo pulsional

Em chamas. 

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Eu procuro um poema livre
Que não seja carregado de bons modos
De frases que emocionam

Eu procuro um poema
Que não fale de amor banal
Cansei desses amores
Sério.

Eu procuro um poema sádico
Que me faça sofrer
Que me desconforte

Eu procuro um poema
Que não fale dos campos belos
E nem mesmo da verdade

Eu procuro um poema de asas
Um poema que se esquece da lua
E até mesmo da pessoa amada.

Eu procuro,
Incansavelmente eu busco,
Uma poesia sem rumo
Perdida entre as linhas

Eu procuro um poema não-dito
Sem razão
Eu procuro a dor da palavra que fere

Eu procuro o poema-culpa
Composto de traumas
E que no desespero da angústia
Come todas as palavras.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

A palavra me cansa.
Hoje mesmo estou esgotado.

A palavra me desconforta
Me faz desajustado.

A palavra me seca
Me corta em pedaços.

Destes pedaços
Eu me vazo
Me derramo como um liquido rarefeito
Que nem ao menos se alinham
Ao que chamo de margem.

Já nem sei mais se tenho margem.
E, se por um acaso, tenho uma forma
Quero mais é que se extrapola.

Quero o descomposto da linguagem.

terça-feira, 22 de julho de 2014

O que eu quero está além do inferno, do purgatório, do reino dos céus.
O que desejo não me cabe,
E por isso
Me sobram esses excessos.

Não quero cálculos, nem fatos.
Não me venham com este dedo apontado.
Não. Não quero saber das suas comunhões, ou do que é certo e errado.

Não me tragam este formato podre
Medíocre e confortável.

Dos desajustados só restaram
Os restos das raízes podres,
Abandonadas, porque são apenas matéria inanimada.

O subjetivismo e o estado abstrato da matéria
Nos revela uma natureza caótica, porém bela.

Nos revela o homem farsante
Que tenta sobreviver com esta sede de se proteger.
Nos revela um homem que sofre
Que experimenta a dor de todos os dias ser anulado.
Como um infante domesticado.

Aos malditos e deformados
Crescem asas para os devaneios.
E garras, para cavar essa essência febril
De leve manuseio.

domingo, 22 de junho de 2014

Todos os meus pontos coçam
Entreabertos por feridas inflamadas
Amarelas.


Versos somente posso
Atestar-me no súbito inconsciente do remorso.
Lágrimas me caem
Pois não caibo no mundo
Neste grande mundo amarelo

Infecundo.

No curso
Ando com prescrição baixa
Nem mesmo me salvam os surtos
Até mesmo a voz infecciona minha realidade inventada.

O meu corpo,
Levado por Eólo,
Vaga pela natureza enquanto cospe em corpos
Entregues ao esquecimento.

Ele arrebentou-se das raízes deterioradas
E alcançou voo nos arredores da natureza mal amada...

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Um verso somente peço
Mesmo que me acometa um estado de náusea tépido.
Mesmo que profundamente a minha imaginação alucinada
Possa incitar-me a mais irônica forma parabólica e reacionária.

Mesmo que possa transformar-me no mais desajustado entretenimento.
Um verso simples somente peço
Com poesias revertidas e parábolas despidas.

Com narrador tirano
Enigmático, estranhado
Para a execução da destoante realidade poética.

Ao lado das descontinuidades da alma
As instâncias sagazes do néctar envenenam as minhas fantasias.

E meu âmago insatisfeito
Tomado pela obstinada necessidade 
Vê-se destruído, diabólico e insaciável
Lançando-se, sozinho, na gênese da linguagem.

O meu verso tumultua a figura 
do inconsciente retrocesso.

É sintoma.
Fálico.
Atemporal, 
Humano e ruidoso

É análise de um paciente pulsional silencioso.


quinta-feira, 22 de maio de 2014

Monocromático

Assim como suas palavras curtas.

Minha ausência altamente infecta.
Afiada.

Esta é a manifestação do éter enjaulado
Anestésico. Inflamado.

Que arde no peito como uma respiração suspensa
Que inspira uma metáfora barata
Como um coito arado.

Porém, cada palavra ardida tem asas
Que ferem dentro da pele.
E cada fração de segundo batida
O éter se petrifica.

É pacífico e eterno o sepultamento do corpo,
Prudente e expressivo o sacrifício do gozo,
Calculado com rigor e sofisticado pela psique,
creio.

Pulverizá-lo emerge uma ameaça
Ao subsolo da palavra.