quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Anatomia de um vencido

Os dentes gastos
os olhos fartos
a epiderme rígida e suja

o  eu,
e o estômago cheio de borboletas mortas

os poros entupidos
com a solidez dos fungos
oferecem aos homens o material trágico
composto de um líquido ácido
e perecível

Hoje, carrego em mim células mortas
e na velhice da alma
crio substâncias que alimentam a dor medonha
dessa doença mórbida

Tomo por vencido
este pequeno lapso

Entrego-lhes pelo vômito
os restos mortais das borboletas
que nunca sofreram a cólera da liberdade
nem mesmo a metamorfose da matéria.

2 comentários:

  1. " e na velhice da alma\ crio substâncias que alimentam a dor "
    Gostei muito. E fui pega nesse trecho.

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