domingo, 11 de janeiro de 2015

A imperiosidade dos fatos
A falência deste corpo estranho
E as novas formas que violentam a culpa
Alimentam esta náusea

Esta faminta veracidade
Que crava seus dentes rançosos
Na mais fina camada de sensibilidade
Estupra incansavelmente a demência deste corpo alado

Pudera eu não engordurar sonhos
Não ser gente
E não estar entre dois lados

Hoje sou tantos
Instantes
Distantes
Tato.

Sou fato
Paixão
Ódio
Repulsa e olfato.

Sou carne e o abstrato;
O trato
de um acordo desarranjado.

Sou desejo.
Asco.

A fúria púrpura
de nervos imediatos

Sou culpa
Em meio ao caos da imortalidade dos sonhos
Desta fantasia chamada vida
Que fere este espírito débil e desfocado.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Estranho. Pulsão. Expulsão.
Estranho. Medo. Grito. Tapa.
Estranho. Conforto. Silêncio.

Estranho. Fome. Grito.
Estranho. Sensação. Saciamento.
Estranho. Prazer. Conforto.

Estranho. Fome. Estranho. Fome.
Estranho. Não. Desconforto.
Estranho. Pulsão. Inquietação. Fome.

Estranho. Educação. Fome.
Educação. Choro. Fome.
Estranho. Estranho. Resignação.
Educação. Estranho. Neurose. Educação.

Estranho. Fome. Silêncio.
Saciamento. Fome. Saciedade.

Educação. Raiva. Educação.
Educação. Paz. Educação.

Estranho. Solidão. Gozo.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Entrelaçado pelo tempo
Corpo
Físico
Na (im) possibilidade do espírito

Contempla-me as luzes amarelas
ofuscadas pelo vidro convexo da janela

Abafado pela atmosfera quente
Das paredes velhas
A epiderme latejante
e poética

Continuo a cantar essa natureza impalpável
entre o pensamento e a matéria

transmito a não substância
a passagem
do entre sem ventre
a não-razão
desse compromisso covarde
e a famosa transformação
de uma ilusão singela

Minha tentativa de compensação
É ver o cheiro
Sentir a vista

E morrer pelo espelho da janela

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Anatomia de um vencido

Os dentes gastos
os olhos fartos
a epiderme rígida e suja

o  eu,
e o estômago cheio de borboletas mortas

os poros entupidos
com a solidez dos fungos
oferecem aos homens o material trágico
composto de um líquido ácido
e perecível

Hoje, carrego em mim células mortas
e na velhice da alma
crio substâncias que alimentam a dor medonha
dessa doença mórbida

Tomo por vencido
este pequeno lapso

Entrego-lhes pelo vômito
os restos mortais das borboletas
que nunca sofreram a cólera da liberdade
nem mesmo a metamorfose da matéria.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Procuro incessantemente um vestígio
Um objeto imaculado calcado ao canto da sala
Um feixe

Procuro no esquecido
lembranças
No estático
percurso

Procuro o aroma não notado
Aquela velha flor seca na bíblia dos nossos passados

Procuro o embaraço
o esquecido mofo
A alma dos objetos inacabados

Procuro o buraco estéril da matéria
Que anuncia a fantasia escura
Que suborna o meu canto inquietante
Antes do suborno da vida

Perco o curso
Do que procuro
e não curo esta alma
de couro bruto

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Ode hedionda


Estranhamente o sublime me apavora
Experimento o desprazer como potência
à dor que me aflora

Do gozo enfático
que por ora,
busca a forma volúpia de uma lógica
Amanhece com polução de um sonho apático
E um desejo coercível de ser bicho transubstanciado

- E na contração do sublime
Pequenos espasmos -

Narciso provoca e convulsiona a alma
É o desejo,
que destruído pela natureza mórbida
Cessa a contração dos impulsos surdos
Desta posteridade odiosa.

Em meu universo árido
Desperto a matéria grotesca
Uma áurea luz entardecida blasfema o meu dia
E em soluços
Seco ao fundo a minha lira

Extraio até a borda tudo o que em mim havia trago
Cujo ventrículo não havia filtrado.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Para além do subcutâneo
Ecôo frases sintomáticas
Revisito traumas.

- Recuo -
- Impulso -

Fere-me as cavidades dos dedos.
Para além do subterrâneo,
E pela ânsia,
cavo uma busca pelo desconforto
Pela náusea íntima
Numa transfiguração do morto.

Ainda que nebuloso
Permito-me à entrega no imaginário
Entre esferas
Encontro-me perante minhas próprias feras

Fora de qualquer zona de conforto
Nem um extremo nem outro
Ainda sinto medo.

Na epiderme: abscesso cutâneo
Infecciono-me com minhas fantasias
Ainda habito inúteis paradigmas


Tecido pela linguagem
Violo e hominizo minha natureza através dos sonhos
Cuja metáfora penetra todas as zonas
Deste corpo pulsional

Em chamas.